A cegueira se manifesta na falta de empatia e – consequentemente – no egoísmo, na falta de ética, na falta de senso crítico e em um maniqueísmo que beira a falta de racionalidade (eufemismo para burrice). Esse caldo, extremamente nutritivo para a corrupção, faz com que busquemos soluções superficiais para problemas profundos. Desse modo, a crise penitenciária é culpa exclusivamente dos bandidos, o caos no Espírito Santo é culpa unicamente da polícia militar e/ou dos criminosos (paradoxal?!), e a crise política/econômica existe em função de um único partido ou tendência política.
O que não se percebe, ou não se quer
perceber, é que essas atitudes sintetizam tão somente a célebre e
comumente ideia utilizada de que: “O inferno são os outros”.
É muito mais fácil apontar o dedo do que estender a mão e, assim, o
inferno parece não ter fim, o que chega a ser uma constatação óbvia,
dado que se estamos cercados de pessoas e elas são o inferno, logo há
inferno por todos os lados e estamos bem no meio dele. Posto isso,
percebemos quão frágil é ter um pensamento que reduz aos outros
indivíduos problemas construídos socialmente, uma vez que ao agirmos
assim, estamos apenas contribuindo para a perpetuação do mal, que em
tese, queremos combater.
O cenário que encontramos hoje é
desolador e não existem sinais de mudança. E não falo somente no ponto
econômico, porque em nada adianta a economia voltar a funcionar e as
bases destrutivas que impedem que o país de fato se desenvolva
permaneçam. Será uma melhora momentânea e aparente, escondendo problemas
que uma hora explodirão, como aconteceu com o governo petista. Mas,
antes de prosseguir, é bom que se diga, não unicamente no governo PT,
nem apenas com Lula, os que assim pensam fazem parte do grupo
reducionista e simplista supracitado.
O problema do Brasil é crônico e
profundo, de modo que é preciso alterar as bases e não os “players” para
que a situação se modifique. A terra tupiniquim precisa de reformas na
base (isso te lembra algo?) para que possamos falar em desenvolvimento
de verdade e não em picos de crescimento econômico mágicos, que permitem
que durante certo tempo a classe média e as novas classes médias se
esbaldem na orgia consumista.
A grande questão, então, é se queremos
de fato essas reformas urgentes e necessárias. A meu ver, não. E a
classe política sabe disso, a elite mesquinha que domina o país também,
de maneira que esperar deles mudanças que retirem das suas mãos o poder é
muita ingenuidade. Mas, talvez não sejamos tão ingênuos. Talvez o que
queremos são soluções mais fáceis, daquelas em que alguém ou algum grupo
é pego de bode expiatório para limpar nossa alma dos pecados.
Há bons motivos para se acreditar nisso,
pois discursos desse tipo são repetidos à exaustão por uma infinidade
de “cidadãos”, assim como, atitudes – ou melhor dizendo – a falta delas,
demonstram quão longe estamos de mudanças. Só para ilustrar, temos um
presidente em exercício, que independente de ter chegado ao poder por
meio de um golpe ou não, é citado recorrentemente na operação
“Lava-Jato”, entretanto não existe pressão popular alguma ou com força
suficiente para que ele seja retirado do poder. A mesma figura ilustre
fez uma “restruturação” para que seu “parça” Moreira Franco, citado
dezenas de vezes em delações da Odebrecht, adquirisse status de ministro
e, assim, passasse a ter foro privilegiado. Não se escutou nem um pio.
Mais uma atitude nobre do nosso paladino da justiça, a indicação do Dr.
Alexandre de Moraes para o lugar de Teori Zavascki, que partiu dessa
para uma melhor em um “acidente” naturalíssimo, no STF. Nenhuma panela
foi batida. Para finalizar, quem comandará a sabatina do excelentíssimo
Dr. Alexandre de Moraes no Senado será Edison Lobão, que possui nada
menos do que 4 inquéritos no STF, 2 deles relacionados à Lava-Jato.
Apesar disso tudo, não há indignação
geral, manifestações, patinhos da FIESP na paulista, camisas da CBF
exclamando patriotismo, exigências de mudanças com grupos patrióticos no
palácio do planalto. Não há absolutamente nada! Curioso é que essas
mesmas coisas aconteceram repetidas vezes, com força e gritos de amor à
pátria, até que a figura ilustre da Dilma deixasse o poder ou quando
ela, antes de largar o osso, tentou fazer de Lula ministro, fato
suficiente à época para formação de um alvoroço que exclamava que a
“queridona” pretendia com a sua ação dar foro privilegiado ao líder da
quadrilha.
Bom, neste exato momento, tenho certeza
de que estarei sendo chamado de petralha por alguns. Sinceramente,
….-..! Como já expus em vários textos, inclusive, antes do impeachment,
juridicamente falando, pode ter havido um golpe, mas eticamente, ela
mereceu o impeachment, bem como, Lula e o PT merecem ser punidos, dentro
da lei, é claro, pelos seus crimes. Mas, Temer e seus anões também
merecem o mesmo tratamento, porque são tão corruptos quanto os petistas.
E quando é chegada essa hora, o que acontece? Nada! Não há uma
mobilização nacional que busque não apenas se manifestar contra o
governo do PMDB, mas também, exigir mudanças significativas na estrutura
política do país, porque ao contrário do que muitos pensam, nenhum
messias irá salvar a nação de uma sujeira que está presente em cada um
de nós.
O que existe com muita força são as
características destrutivas citadas no início do texto. Só para
relembrar, porque é necessário, espero que cada organismo do PT pague
pelo mal causado à nação, mas não sou um idiota útil para acreditar que a
culpa por todos os nossos problemas se reduzem a um partido e, mais
especificamente para os mais extremistas, a uma pessoa. O problema está
na classe política como um todo, mas é preciso lembrar também, que ela
não surgiu do nada, ela existe a partir e dentro da sociedade, portanto,
esta como um todo possui culpa e a responsabilidade de ter olhos quando
os outros os perderam. Infelizmente, ao que parece, neste ensaio sobre a
cegueira não existe a mulher do médico, ou se existe, está em número
insuficiente para que o autor que vos fala acredite que possamos voltar a
enxergar. Aliás, quando enxergamos?
Por Erick Morais
extraído do site
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